sexta-feira, 23 de julho de 2010

Sobre as avaliações de acusação de abuso sexual

Andréia Calçada

O que é preocupante com relação às avaliações de acusações de abuso sexual é o desconhecimento dos profissionais que atuam nesta área de que existe um movimento crescente tanto no Brasil quanto no mundo da utilização de acusações de abuso sexual como retaliação e vingança em casos de divórcio e custódia. A acusação de abuso sexual nestes contextos é o tiro mortal na relação entre um genitor e seu filho, já que na maioria dos casos a primeira providência tomada judicialmente é o afastamento entre ambos. A incidência deste tipo de acusação tem se tornado epidêmica tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Nos Estados Unidos temos uma síndrome sendo delineada, a SAID (“Sexual Allegations in Divorce”, ou Alegações de natureza Sexual em Divórcios) em decorrência da freqüência de acusações de abuso sexual no contexto de disputas judiciais. Portanto, a avaliação deste tipo de acusação tem técnicas e critérios específicos que precisam ser observados.

A contextualização da acusação e a motivação para uma falsa acusação de abuso sexual

A postura do profissional que avalia acusações de abuso sexual deve ser, portanto, neutra e de um “pesquisador da verdade”(Nichols,1997), investigando todas as partes envolvidas. A criança pode estar meramente sendo utilizada como arma dentro de uma dinâmica previamente estabelecida; muitas vezes como movimento de vingança e punição. O alvo será o que mais vai atingir o ex-parceiro: a relação com os filhos.

Como sabemos as acusações de abuso sexual podem surgir como estratégia mortal em casos de alienação parental, onde um dos genitores, como vingança quer afastar e/ou fazer o filho odiar o outro genitor (Podevyn 2002; Calçada, 2008). O profissional que avalia uma acusação de abuso sexual obrigatoriamente deve investigar o histórico de relacionamento do casal antes e depois da separação e frente a guarda e visitação dos filhos.

Portanto, todo relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo.

Nenhum comentário: