sábado, 13 de março de 2010

A REVELAÇÃO DA CRIANÇA - Parte 2


(Texto resumido do livro Crianças no labirinto das acusações - Falsas Alegações de Abuso Sexual da Doutoranda em psicologia Marcia Ferreira Amendola – Ed. Jurua - 2009)

Parte 2: A Revelação sugestionada


Assim, pensar a entrevista de revelação a partir desse panorama é considerar o entrevistador como aquele que exerce um poder sobre a criança, poder este entendido como uma ação essencialmente repressiva (FOUCAULT, 2004), cuja intenção é extrair o saber do outro a partir da vigilância hierárquica, do olhar que fiscaliza, obriga e produz efeitos; “[...]um poder que, em vez de se apropriar e de rtirar, tem com ofunção maior ‘adestrar’; ou, sem dúvida, adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor” (FOUCAULT, 2005, P. 143).

Nesse sentido, a entrevista de revelação seria uma forma de disciplinar a palavra da criança, poder este entendido como uma ação essencialmente repressiva (FOUCAULT, 2004), cuja intenção é extrair o saber do outro a partir da vigilância hierárquica, do olhar que fiscaliza, obriga e produz efeitos; “[...]um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior ‘adestrar’; ou, sem dúvida, adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor” (FOUCAULT, 2005, P. 143).

Diante desse processo, a criança está propensa a aceitar, direta ou indiretamente, o seu não-saber, podendo ser conduzida, pelas expectativas, crenças e, principalmente, pelo poder-saber do entrevistador, a acolher um discurso produzido para ser a verdade. Assim, conforme a criança se submete a este poder-saber, ela confessa que sofreu um abuso sexual.

A partir dessa concepção, justifica-se arrancar à força a pretensa verdade da criança sobre o abuso sexual, já que este último permanece na obscuridade/clandestinidade. Portanto, para o profissional que se encarrega de ouvir a criança em seu proceso de revelação do abuso, este se torna o juiz, cujo “poder em relação à confissão não consiste somente em exigi-la, antes de ela ser feita, ou em decidir após ter sido proferida, porém em constituir, através dela e de sua decifração, um discurso de verdade” (FOUCAULT, 2001, P.66), essencial para o sucesso da entrevista de revelação.

Contudo, Bruck, Ceci e Shumam (2005) consideram o tipo de posicionamento sustentado por Summit inconsistente, pois, mediante os resultados de uma série de pesquisas por eles analisadas, uma vez a criança tenha revelado um abuso, ela tende a manter seu discurso durante as investigações. No caso de a criança negar, os autores entendem que o abuso pode não ter ocorrido. Porém, se a revelação da criança transcorrer na forma de pequenos fragmentos promovidos por entrevistas diretivas ou jogos de representação, nos moldes que Furniss (2002) sugere, os autores acreditam que essa revelação possa se dar como resultado de um processo de sugestão, portanto suscetível de erros e distorções. Os autores definem, desta forma, que àquela criança, cuja declaração surja espontaneamente e de forma detalhada, a suspeita de uma ocorrência de abuso sexual é perfeitamente plausível.

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